“Eu era o barco, agora sou a comandante”

A história da família Carvalho Siqueira no café começou com o marido de Maria Helena. Enquanto ela cuidava da casa e dos filhos com muito amor, ele se dedicava aos cafezais, de onde vinha a renda da família. Por não ser uma tarefa fácil, nossa produtora tomou a decisão de começar a ajudá-lo no que pudesse. Foi nesse momento que teve início sua relação pessoal com o café. No entanto, ninguém poderia contar com uma infelicidade do destino: o marido de Maria Helena faleceu, pegando a todos de surpresa.

Foi essa mesma infelicidade, porém, que a transformou na matriarca da família. Com muita coragem e honra, ela não entregou as pontas: assumiu a gestão dos cafezais e trouxe o amor da família para ainda mais perto dos grãos. Anos e anos depois, apesar de todas as dificuldades da sucessão familiar, hoje em dia é seu filho Lauro e sua neta Letícia que têm o prazer de lhe ajudar. A responsabilidade de liderar os negócios e o peso de orientar toda uma família nunca lhe tomaram o prazer, a felicidade e a boa ambição de querer sempre mais. Esse é o gostinho da sua curadoria de maio: um pouquinho de tudo que só uma mãe tem!

Foi um prazer visitar a Fazenda Palmital e ouvir essa história! Esperamos que gostem e possam admirar a família da Maria Helena e o legado que construíram, assim como nós.

Conta um pouco da história da senhora assumindo a fazenda.

Maria Helena: “Eu cuidava da minha casa. Meu marido, Zé, tinha uma sociedade na fazenda e separaram. Um dia, eu percebi que os negócios não estavam indo tão bem. Aí, eu resolvi: ‘ vou colocar uma funcionária aqui (na casa) e vou te ajudar’. Então, eu saí de dentro de casa e vim ajudar ele. Estudei bastante e aprendi com ele a mexer, receber, marcar o café, fazer conta. Levantei até de madrugada para fazer isso. Como meu marido morreu de repente, fiquei bastante perdida. Ele faleceu no sábado. Na segunda, minha filha falou: ‘A senhora era o barco, hoje a senhora é o comandante’. E eu falei para o meu filho: ‘Seu pai não volta. Agora, sou eu e você. Não vamos deixar a peteca cair’. Meu marido sabia que, se ele morresse, eu ia tocar, porque ele dizia que eu sabia e tinha garra. Por isso, graças a Deus, nós vencemos. Tenho que agradecer a Deus e à família que eu tenho. Eu ajudo eles, e eles me ajudam. A gente tem que ter garra e não podemos desanimar”.

Qual o maior sonho de vocês com a cafeicultura?

Maria Helena: “Eu acho que, quanto mais a gente procurar fazer um café bom, especial, enxergando as qualidades e procuras do comércio, vamos melhorando.”

Quais foram os maiores desafios que vocês já enfrentaram?

Lauro: “Já tivemos eventos de seca, que foram bem prejudiciais. Aqui, a geada não nos afeta muito. Por já estarmos na região há muito tempo, já sabemos onde ocorre geada e não vamos plantar por lá. Por isso, também temos outras culturas, de acordo com as aptidões da propriedade. O maior desafio é manter a fazenda como uma fazenda de ponta e quebrar os paradigmas da mudança.Quando a fazenda estava sob comando do meu pai, eu vi ele quebrar paradigmas naquela época, e eu aprendi com ele. Veio essa parte da mecanização em 2006. No começo, ninguém acreditava e achava que não ia dar certo. Essas mudanças não param. O cenário mudou, você tem que mudar com ele. O pessoal pensa que fazenda é uma maravilha, mas não: são altos e baixos. Você tem que estar atento e aproveitar as oportunidades que surgem, como negociações de café. Por exemplo, fomos em uma palestra e sugeriram a teoria de colocar o grão a grãos, passamos para ela (Maria Helena), e ela acredita e abraça.”

Lauro, como filho, o que você pode nos dizer sobre a Maria Helena?

Lauro: “Eu só posso tecer elogios a ela, como pessoa, mãe e mulher. Aqui na sociedade, ela é a cabeça. Ela é quem determina para onde a fazenda vai. Mesmo com 82 anos de idade, ela é super ativa, sabe tudo que está acontecendo e as diretrizes. Sempre pego conselhos como proceder em certos casos. Ela é uma mulher admirável, faz a diferença!”

Fala um pouco sobre sustentabilidade aqui na fazenda.

Lauro: “A gente tem tentado fazer uma produção aliada ao meio ambiente, com proteção da fauna e da flora. Existem corredores ecológicos. Por exemplo, nós estamos aqui sentados no meio de duas lavouras de café, mas na sombra. Aqui, os animais podem trafegar livremente no meio da propriedade. Respeitamos tudo e, principalmente, o ser humano, nossos colaboradores. Produzimos café para quem está do outro lado do xícara reconhecê-lo como sustentável. Estamos nos aprimorando, mesmo trabalhando em vários segmentos. Esse é o futuro da fazenda. Sempre olhamos as aptidões da terra. Eu ando muito por aqui e vejo os animais, como passarinhos, quatis, lobos e até onça. Não mexemos com eles, e eles não mexem com a gente. Isso é muito importante.”